Mulheres que fazem história na educação

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, conheça histórias de servidoras que fazem a diferença nas escolas de Taguatinga.

Reportagem: Jacqueline Pontevedra/CRET

O mês de março é um período dedicado a celebrar a História da Mulher. Desde 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 8 de março como Dia Internacional da Mulher, mas o simbolismo da data vai além das homenagens às mulheres. “Precisamos pensar além das comemorações, pensar com criticidade e compreender esse dia como uma possibilidade para o reconhecimento de lutas históricas pelos direitos das mulheres e também como uma denúncia, pois o cotidiano de uma mulher no Brasil é desafiador, repleto de exigências e de explorações e muitas ainda estão submetidas aos diferentes tipos de violência”, enfatizou a professora de geografia do Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte, Edijane Amaral Silva.

Há mais de 20 anos, Edijane realiza o Projeto Cerrado Vivo – trabalho pedagógico que apresenta a riqueza do cerrado, já foi reconhecido na rede pública e também foi finalista no Prêmio Professores do Brasil do Ministério da Educação e o Prêmio Educador Nota 10. Ao longo de sua carreira, a professora já vivenciou alguns comportamentos e atitudes machistas. “Por exemplo, para realizar uma saída de campo com 40 estudantes para a Chapada dos Veadeiros, sempre há alguém que coloca em pauta minha fragilidade física’ para realizar essa ação e ainda afirma que eu preciso levar algum homem para acompanhar a atividade. Isso é uma forma de dizer que, por ser mulher, eu posso não conseguir acompanhar os alunos.  Outro exemplo: durante a coordenação coletiva nós percebemos que os homens ficam impacientes quando as mulheres falam, pois eles desejam que sejamos objetivas”, explicou Edijane.

Professora do CEMTN, Edijane Silva, durante saída de campo. Foto: Mary Leal/Ascom SEEDF

Nesse contexto, a educadora afirma que a escola deve ser um espaço para que professoras e alunas tenham voz, se organizem e lutem coletivamente contra o machismo e busquem uma educação pautada na igualdade de gênero. “As meninas devem ser estimuladas a terem um lugar de evidência e compreendam que elas podem buscar autonomia financeira, podem participar de discussões políticas, podem estar presentes em espaços considerados masculinos, podem se dedicar a uma profissão para só depois (e se quiserem) vivenciarem a maternidade – não como algo naturalizado e imposto socialmente, mas como uma escolha que envolve muita responsabilidade ”, destacou.

A merendeira do Centro de Ensino Fundamental 19, Rosana Pacheco, também acredita que a escola é um lugar importante para que as meninas tenham lições sobre o papel das mulheres, aprendam a lutar por direitos e encontrem reconhecimento. Em 2023, com o prato Escondidinho a Cara do Cerrado, ela foi a vencedora do Concurso Sabor de Escola promovido pela Secretaria de Educação. “Muitas vezes a gente não acredita que pode vencer, mas receber essa premiação me mostrou que eu posso conquistar, que posso chegar lá e ganhar o concurso é uma forma de mostrar para as alunas que elas também são capazes de conquistar e realizar. Minha profissão ganhou mais visibilidade na escola e ver as crianças comendo, repetindo e elogiando é muito gratificante”, ressaltou.

            Rosana gosta de ser mulher, destaca a importância do dia 8 de março, mas faz uma ressalva. “Temos muito o que comemorar, pois nossas conquistas e nossos direitos resultam da luta de muitas mulheres que vieram antes de nós, a nossa vida já foi mais difícil, mas também ainda precisamos conquistar muitas coisas e os casos de violência doméstica evidenciam isso. Eu acho desafiador ser mulher, pois preciso estar me reinventando, me transformando e sendo várias pessoas ao mesmo tempo”, explicou.

            Há 28 anos, a professora Cristiane Lima atua na Secretaria de Educação e ela também concorda que o protagonismo feminino é algo desafiador. “O acúmulo de atribuições e de deveres (tarefas domésticas, maternidade, profissão e outras funções) sobrecarrega física e psicologicamente as mulheres, pois a sociedade nos cobra excelência em todas as nossas ações. Nesse sentido, para muitas professoras é imperativo conciliar horário de trabalho com as necessidades da vida familiar uma vez que o cuidado é uma atribuição feminina”, destacou.

Nos últimos doze anos, ela atuou como gestora na Escola Classe 1 do Incra 8. Mas, por questões pessoais, optou por retornar à sala de aula para ter mais tempo para acompanhar a filha adolescente e a mãe idosa. Por isso, escolheu atuar na Escola Classe 27 de Taguatinga (que fica perto de sua casa) e também é a mesma unidade de ensino onde iniciou sua vida escolar quando criança e, perto da aposentadoria, considera o local apropriado para finalizar a trajetória como professora. “Meu esposo é bombeiro militar e a rotina de trabalho dentro da corporação nunca foi pauta para análise ou discussão familiar, ou seja, a vida pessoal não interfere tanto na trajetória profissional dos homens”, concluiu.

            No início da carreira, Cristiane observou outra questão relativa à desigualdade de gênero quando ela ministrava aulas para crianças das séries iniciais.  “Quando um adulto usava, de forma estereotipada, o termo “tia” (como sinônimo de professora) ficava evidente que essa fala, de alguma forma, tentava diminuir minha atuação na SEDF e eu não me sentia respeitada como profissional”, ressaltou.

           

Para trabalhar a igualdade de gênero na escola, Cristiane afirma é necessário estimular as meninas a terem um lugar de fala, devem ser estimuladas a alcançarem sonhos e devem acreditar no próprio potencial. “Para isso, desde cedo, os professores devem ensinar aos meninos que as meninas devem ser respeitas, que elas têm o mesmo valor e que elas podem conquistar os mesmos espaços na sociedade”, enfatizou.    

            Outra questão importante apontada por Cristiane é a necessidade do afeto e da sororidade entre as mulheres, pois, em muitas situações, as professoras precisam compreender que as mães dos alunos também estão sobrecarregadas, cansadas, vivem muitos problemas no âmbito familiar e não conseguem dar atenção às crianças. “Então, tentar compreender as histórias de vida, e dar um simples abraço nas crianças e nessas mulheres pode trazer um pouco de acolhimento”, ressaltou.

As diferentes trajetórias dessas profissionais evidenciam que a Educação é a chave para a mudança de histórias de vida e a escola, ainda que possa reproduzir o machismo estrutural, é o espaço de excelência para a construção da igualdade de gênero. Para além das homenagens e comemorações pelas conquistas já alcançadas e pelo papel importante que desempenham, o Dia Internacional da Mulher deve ser um dia para reforçar a luta por respeito e por uma sociedade mais justa e igualitária. Para isso, a prática da sororidade (termo usado no sentido de irmandade ou união entre as mulheres) é caminho para que a amizade, a alegria e a poesia estejam presentes para a mobilização e união no 8 de março.

Os professores podem consultar o Decreto nº 44.918, de 1º de setembro de 2023, que foi publicado com o objetivo de regulamentar o combate ao machismo na rede pública de ensino do Distrito Federal e também implementar ações de valorização das mulheres. Cabe destacar também que diferentes eventos comemorativos relativos ao 8 de março vão ocorrer em alguns espaços educativos e nas unidades escolares vinculadas à Coordenação Regional de Ensino de Taguatinga.

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